domingo, 11 de novembro de 2012

Seres Pessoa


Quem dera eu fosse como Pessoa.
Não apenas uma, mas muitas. 
Compactas numa carne só. 
Personalidades diversas, heterônimos. 
Pessoas. 
Dilacerando essa identidade que me prende. ]
A razão e a emoção, a alegria e a tristeza. 
A coragem e o medo. 
O sim e o não. 
Separados, personificados. 
Com data de nascimento e de morte. 
Ser tudo isso num só não me cabe. 
Eterna luta cega. 
Que nos parte em pedaços assimétricos. 
Distintos por essência. 
Sobrepostos. 
Pesados fardos do ser. 
Antíteses. 
Opostos. 
Por favor me deixem ser muitos. 
Fluidos, distantes, sozinhos, desconhecidos. 
Prefiro isso. 
Ou que o corpo todo me cortes. 
Para ser dividido e levado em partes. 
Esquartejado! 
Para que a cabeça pensante, seja exibida lúcida em praça pública
E o coração ainda pulsante ,seja enterrado e esquecido. 
Num lugar qualquer a beira de um rio.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

(tentativa de..) Conversa com Leminski



inverno
inevitável
céu cinza, muita lã
um frio vazio
ou vazio frio?
assim que chega, morro
sem sentido eu corro
vida cega, surda e vã
inevitável,
inferno

chove la fora
mas aqui dentro
só tempestade.

Eterno Retorno, Enterro Retórico





Paradoxalmente, devido a insatisfação caótica e a constante perda de sentido se constrói todo novo sentido.


Nada Alem de Nada.


Há sempre uma parte dentro de mim que não se contenta. Encerra-se em si mesma e assim permanece. Há sempre algo que me falta, como se pra ser completo necessitasse do vazio. Que falta é essa que me faz aquela, aquilo ou o quê? Onde foi que ficou a parte que falta? Um desconforto, um desaforo, um descabido. Aquele espaço dentro da gente que não se pode localizar. No esôfago? Estômago? No peito? Ou no leito? Não se pode saber. É como se a vida fosse só isso. Encontrar ou descobrir aquilo que falta. Dinheiro? Amor? Alegria? Qualquer coisa que seja essa falta é algo que ninguém nunca vai saber. É como se fosse um diamante oco, raríssimo, que se esconde no lado negro da alma. Calma. Talvez seja o nada. Nem frio nem quente, inodoro, incolor, invisível. Não chega a doer. E não incomodaria tanto se não fosse constante. Pode ser que seja aquilo que nos torna humanos, racionais, intelectuais. Como se esquecendo de algo deixássemos de sentir. Tudo, menos a angustia de não saber.  Afinal, o que cabe dentro desse espaço infinitamente distante de nós, que insiste em fazer eco? Cabe aquilo tudo que queremos, cabe aquilo tudo que seremos, tudo o que somos.  Como se fossemos nada além disso. Nada além de nada.